segunda-feira, 10 de abril de 2017

Começo este texto advertindo o que aqui escreverei reflete a minha perspectiva, sendo assim, espero que conceba essa leitura a partir de ...

O nosso léxico de cada dia: as diferenças da variante brasileira e portuguesa, no mundo do Angelo.

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Começo este texto advertindo o que aqui escreverei reflete a minha perspectiva, sendo assim, espero que conceba essa leitura a partir de uma visão limitada e condicionada a uma única vivência.

Posto essa observação em evidência, inicio dizendo que esse tempo que tenho estado por aqui, Aveiro, Portugal, tem contribuído muito para o meu alargamento linguístico e a minha percepção de mundo.  Essa experiência me trouxe a oportunidade de conhecer diversas variantes do português falado por nativos e não nativos. Ouvi chineses, russos, portugueses, espanhóis, colombianos, polacos, só para falar de alguns, há outros, mas não vale a pena enumerá-las exaustivamente aqui, já dá para ter uma noção que são diversas abordagens linguísticas, né?

Este texto será pautado pelo léxico, as palavrinhas diferentes que usamos para dizer a mesma coisa. Embora pareça fácil, nem sempre soa da mesma maneira. Tenho a felicidade de conviver com pessoas muito solícitas e divertidas, prontas a repetir, a achar graça sempre e a explicar em seguida. Também me proponho a fazê-lo e gosto muito dessa “brincadeira”.

Vamos lá, começando...

Aprendi a ouvir com mais atenção às expressões e adotar, mentalmente, a correspondência da variante brasileira para entender melhor o interlocutor. Agora está a fluir sem grandes problemas. Não faz mal em ouvir que determinada palavra é estranha ou se calhar nunca a ouviram. Coube a mim a curiosidade de entender que as influências africanas em nossa variante são mais evidentes que eu pensava. Quando eu ouvi, pela primeira vez: “O seu rabo está sujo” confesso que foi bem estranho, mas não me espanta mais. É algo do tipo: “A sua bunda está suja”. Na Universidade há muitas árvores, grandes e pequenas, gosto mundo de sentar embaixo delas, na grama, esperando o vento passar dando boleia (carona) aos minutos do dia.

O pouco, ou quase inexistente, uso do gerúndio e o constante uso da segunda pessoa do singular (tu) são impressionantes no começo, soa até mais formal, mas isso já é algo muito comum no meu cotidiano. Se eu uso você, alguns dizem que posso tratar por tu, afinal o pronome você é um tratamento muito formal, eles dizem: “Tu estás a chamar-me de velho?” Imaginem? É muita piada (engraçado).

Pois! Gosto também do “pois” para nós equivale ao: “Sim, verdade, claro, lógico...”. Usam para dizer claro que sim, ou claro que não, ai fica: Pois sim, pois não. Para entender melhor: “Posso usar a sua chávena?” eu digo: “Pois” e está tudo resolvido, entendido. A chávena dos meus amigos é igual a minha xícara, mas quando falo xícara alguns dizem: “Que palavra velha!” Oxê! Como assim? Palavra velha? É engraçado. Ah, engraçado é interessante, aqui, se calhar, a professora pode dizer que o seu texto está engraçado e você ficar sem perceber, afinal o entender é perceber.

Aqui se magoa quando cai e se sofre algum tipo de escoriação está aleijado. Muito louco, não? Construo na minha cabeça as equivalências: Magoar – Machucar, ficar roxo, bater; Aleijar – Cortar. Aqui o caqui se chama dióspiro. Por favor, procure o nome científico do caqui, se calhar tu entenderas o motivo de chamá-lo assim por aqui. Ah, se calhar é o nosso talvez, também tem talvez, mas o se calhar impera.

Para a semana é o mesmo que para a próxima semana. Zona é lugar, fixe é legal, giro é bonito. “Apetece-te gelado?”, “a sério?”, algo como “Ce gosta de sorvete? – Você quer sorvete? – Você gosta de sorvete?”, “Tá de zoeira? – Sério? – Sérião?”.

Na altura (no começo) aconteciam muitos risos, mas agora é tão natural que nem tem mais piada (graça). E olha que não estou a falar (falando) sobre a pronúncia e os acentos gráficos, algumas palavras apresenta silaba tônica em outra parte (Como é o caso de Madagascar e cocô) e é comum a troca do acento circunflexo pelo agudo (Como António).

Não atribuem sentido quando digo: “Nossa, que catinga. Meu G zuis que fedô!” quando esquecem algum comida na geladeira, é normal dizer isso, ou quando eu digo: “A dona Pureza irá xingar a gente” eles me olham com uma cara de interrogação e eu repito a proposição com uma paráfrase mais adequada: “A dona Pureza vai ralhar connosco, (Sim, com 2 N, de arrepiar, não?) vai falar mal”. (A dona Pureza é uma senhora que vem aqui na residência todas as segundas-feiras para fiscalizar, advertir... às vezes é simpática).

Compartilhamos quase tudo nessa residência universitária. O comando (controle remoto), o frigorífico (a geladeira), o estendal (varal) e várias outras coisas como as noites na sala de estudo e até algumas inseguranças acadêmicas. 

Temos que deitar (jogar) fora o lixo sempre quando está cheio, no nosso condomínio há um lugar que temos que levar os sacos lá, é como uma lixeira gigante comunitária.

Ouço muito o “estou cheio de...” no lugar do nosso “estou com...”, portanto escuto: “estou cheio de fome, de saudade...” e imagino “Estou com fome, saudade”.

Aqui toda a gente faz, ao invés de: todo mundo faz. Como vai é uma pergunta que sempre gera dúvidas, um amigo meu sempre diz: “Soa estranho!” e eu pergunto: “Como eu digo então?” ele sorri e diz: “Ah... Diz: Tudo bem? Estas bom” Não acho algo tão diferente assim.

A nossa pergunta habitual: Oi? (No sentido de não entendi o que você quer dizer, poderia repetir) não é algo que eles atribuem sentido rapidamente e um amigo meu até confidenciou que o irrita (Hahaha... eu acho isso tão engraçado). Portanto o nosso “Oi?” é substituído por “Não percebi”.

Espero que vocês não tenham ficado muito confusos com este texto. Eu gosto muito dessas diferenças e me divirto com elas, pelo visto não sou apenas eu, os amiguinhos também acham muita piada.

Bom, pessoal é isso! Boa semana e até a próxima.

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