domingo, 16 de outubro de 2016

Olá, pessoas. Por aqui o sol está encoberto por nuvens cinza e uma fina garoa deixa constantemente as ruas molhadas. A chuva parece bri...

Faz sentido

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Olá, pessoas.

Por aqui o sol está encoberto por nuvens cinza e uma fina garoa deixa constantemente as ruas molhadas. A chuva parece brincar com a gente, pois em intervalos ela vem mais agressiva, com seus pingos pesados e outro momento some como se não houvesse deixado seu rastro.

O outono é muito úmido, não seca as roupas que colocamos no varal e na sacada fica impossível deixar durante a noite sob forte ameaça de acordarmos e estarem ainda mais molhadas.

Embora pareça um cenário nostálgico e triste não é assim que se apresenta. Esse clima me deixa mais motivado a ler e fazer minhas intermináveis obrigações universitárias. Sim, não é exagero, não acabam nunca as listas de exercícios, as leituras e sempre que termino uma eu penso naquela outra coisa que também está por fazer. Não é nada tedioso, diria um pouco cansativo.

Sobre a apresentação do trabalho de variação linguística na semana passada: foi bem tranquila. Ainda que eu tenha ficado nervoso como habitualmente, foi interessante realizar essa apresentação para os meus colegas portugueses e descobrir o interesse deles pelo assunto.

Hoje também quero compartilhar com vocês algumas observações sobre atribuição de sentido, algo a que não estamos acostumados a prestar atenção, pois é natural estar entre pessoas que entendem a nossa língua, a nossa conversa.

A atribuição de sentido é um assunto muito comum no meu cotidiano. Tenho convivido com colegas chineses que estão aprendendo português e é difícil para eles entenderem algumas expressões que falamos cotidianamente. Um exemplo disso é a pequena história que eu vou contar.

Estava estudando na sala de estudos aqui de casa e um desses colegas me pediu que o ajudasse na procura de um filme que estivesse dublado e com legendas em português para praticar.

Depois de uma busca rápida no Google encontramos um filme e ele começou a assistir. Continuei a minha tarefa e minutos depois fui interrompido com suas dúvidas. Ele não conseguiu entender a legenda e atribuir sentido à frase: “Eu não curto o metal.” Para nós, que somos nativos é fácil entender a frase como: “Eu não gosto do estilo de música heavy metal.”, mas para ele, a frase não fazia sentido, pois soou literalmente como metal curto, ou seja, um pedaço de ferro estreito. Expliquei a ele que curtir é um verbo que usamos substituindo o gostar, portanto conjugamos curtir no lugar de gostar, quando estamos falando com nossos amigos diariamente. E metal é um gênero musical, que conforme a Wikipédia se desenvolveu no final da década de 1960 e início da década de 1970 no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Outra dúvida também surgiu quando uma personagem disse: “Eu não entendo isso, não é a minha praia”. Para nós, isso é facilmente entendido como “Não entendo esse assunto, pois não gosto ou não tenho experiência com isso”. Para ele, praia, só tem um significado e não conseguia entender como essa palavra estaria inserida nesse contexto para fazer sentido. Depois de explicar ele pôde compreender o que a personagem falava.

A diferenciação de verbo e substantivo no contexto da frase também é outra coisa a se explorar. O meu colega chinês me perguntou: “Angelo o que é toco?”. Respondi: “Toco é um pedaço de pau. Após cortar uma árvore, sobra um pedaço de madeira, a que damos o nome de toco.” Percebi na sua cara que essa explicação não foi suficiente, pois ele ainda não conseguia atribuir sentido à palavra. Então, eu o perguntei: “Qual é o contexto dessa palavra?” – Pergunta ainda mais complicada, fomos até o computador e descobri que o nome “toco” ao qual ele se referia não era um substantivo e sim o verbo tocar conjugado na primeira pessoa do singular. A partir daí pude dizer que se tratava do verbo conjugado e que a personagem dizia que tocava um determinado instrumento.

Isso também aconteceu quando a personagem disse: “Você me pegou”, como explicar isso? Optei por substituir o “pegar” pelo verbo “surpreender” e expliquei que a personagem ficou surpresa e esse sentimento, na oralidade, pode ser expresso por “você me pegou”, no sentido de “você me surpreendeu”.

Lance, barato, disfarçar, “quem sabe com o tempo” são outras palavras, verbos e expressões às quais se atribui outro sentido, diferente do literal, em uma conversa entre amigos. Um lance foi explicado como um momento, algo rápido; barato como interromper algo bom, na frase “cortou o barato”; e a expressão “quem sabe com o tempo” tentei explicar que a personagem quis dizer que com o passar de um tempo, não especificado, ela conseguiria fazer determinada coisa, ou seja, quem sabe com o tempo (horas, dias, meses, anos) ela faria algo que no momento presente não sabia como.

Bom, é isso!


Espero que tenham gostado, até a próxima.

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