Olá, pessoas.
Por aqui o sol
está encoberto por nuvens cinza e uma fina garoa deixa constantemente as ruas
molhadas. A chuva parece brincar com a gente, pois em intervalos ela vem mais
agressiva, com seus pingos pesados e outro momento some como se não houvesse
deixado seu rastro.
O outono é muito
úmido, não seca as roupas que colocamos no varal e na sacada fica impossível
deixar durante a noite sob forte ameaça de acordarmos e estarem ainda mais
molhadas.
Embora pareça um
cenário nostálgico e triste não é assim que se apresenta. Esse clima me deixa
mais motivado a ler e fazer minhas intermináveis obrigações universitárias.
Sim, não é exagero, não acabam nunca as listas de exercícios, as leituras e
sempre que termino uma eu penso naquela outra coisa que também está por fazer.
Não é nada tedioso, diria um pouco cansativo.
Sobre a
apresentação do trabalho de variação linguística na semana passada: foi bem
tranquila. Ainda que eu tenha ficado nervoso como habitualmente, foi
interessante realizar essa apresentação para os meus colegas portugueses e
descobrir o interesse deles pelo assunto.
Hoje também
quero compartilhar com vocês algumas observações sobre atribuição de sentido, algo
a que não estamos acostumados a prestar atenção, pois é natural estar entre
pessoas que entendem a nossa língua, a nossa conversa.
A atribuição de
sentido é um assunto muito comum no meu cotidiano. Tenho convivido com colegas
chineses que estão aprendendo português e é difícil para eles entenderem
algumas expressões que falamos cotidianamente. Um exemplo disso é a pequena
história que eu vou contar.
Estava estudando
na sala de estudos aqui de casa e um desses colegas me pediu que o ajudasse na
procura de um filme que estivesse dublado e com legendas em português para
praticar.
Depois de uma
busca rápida no Google encontramos um filme e ele começou a assistir. Continuei
a minha tarefa e minutos depois fui interrompido com suas dúvidas. Ele não
conseguiu entender a legenda e atribuir sentido à frase: “Eu não curto o metal.”
Para nós, que somos nativos é fácil entender a frase como: “Eu não gosto do
estilo de música heavy metal.”, mas para ele, a frase não fazia sentido, pois soou
literalmente como metal curto, ou seja, um pedaço de ferro estreito. Expliquei
a ele que curtir é um verbo que usamos substituindo o gostar, portanto
conjugamos curtir no lugar de gostar, quando estamos falando com nossos amigos
diariamente. E metal é um gênero musical, que conforme a Wikipédia se
desenvolveu no final da década de 1960 e início da década de 1970 no Reino
Unido e nos Estados Unidos.
Outra dúvida
também surgiu quando uma personagem disse: “Eu não entendo isso, não é a minha
praia”. Para nós, isso é facilmente entendido como “Não entendo esse assunto,
pois não gosto ou não tenho experiência com isso”. Para ele, praia, só tem um
significado e não conseguia entender como essa palavra estaria inserida nesse
contexto para fazer sentido. Depois de explicar ele pôde compreender o que a
personagem falava.
A diferenciação
de verbo e substantivo no contexto da frase também é outra coisa a se explorar.
O meu colega chinês me perguntou: “Angelo o que é toco?”. Respondi: “Toco é um
pedaço de pau. Após cortar uma árvore, sobra um pedaço de madeira, a que damos
o nome de toco.” Percebi na sua cara que essa explicação não foi suficiente,
pois ele ainda não conseguia atribuir sentido à palavra. Então, eu o perguntei:
“Qual é o contexto dessa palavra?” – Pergunta ainda mais complicada, fomos até
o computador e descobri que o nome “toco” ao qual ele se referia não era um
substantivo e sim o verbo tocar conjugado na primeira pessoa do singular. A
partir daí pude dizer que se tratava do verbo conjugado e que a personagem
dizia que tocava um determinado instrumento.
Isso também
aconteceu quando a personagem disse: “Você me pegou”, como explicar isso? Optei
por substituir o “pegar” pelo verbo “surpreender” e expliquei que a personagem
ficou surpresa e esse sentimento, na oralidade, pode ser expresso por “você me
pegou”, no sentido de “você me surpreendeu”.
Lance, barato,
disfarçar, “quem sabe com o tempo” são outras palavras, verbos e expressões às
quais se atribui outro sentido, diferente do literal, em uma conversa entre
amigos. Um lance foi explicado como um momento, algo rápido; barato como
interromper algo bom, na frase “cortou o barato”; e a expressão “quem sabe com
o tempo” tentei explicar que a personagem quis dizer que com o passar de um
tempo, não especificado, ela conseguiria fazer determinada coisa, ou seja, quem
sabe com o tempo (horas, dias, meses, anos) ela faria algo que no momento
presente não sabia como.
Bom, é isso!
Espero que tenham gostado, até a
próxima.
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