Há uma semana cheguei ao Brasil e
me despedi do lar que me pertenceu por um período de tempo determinado. Sabia
que não seria para sempre e desconhecia o que esse tempo poderia me alterar.
Ainda sou nômade, mas faço lar no lugar onde meu coração está.
Era Portugal a minha pátria, Aveiro a minha casa, suas ruas o meu rumo, a Universidade o meu prumo, a rotina a minha inércia, os amigos a minha singela alegria, os professores a minha gratidão, o meu estímulo.
Na última semana, antes de voltar
ao Brasil, fui à Itália. Estabeleci um pouso em Milão e adormeci lá por três
dias. Nas manhãs de sol visitei Turim e Veneza, cidades vizinhas. Na manhã de
chuva parti para Roma.
Pernoitei nessa cidade para deixar minhas coisas de viagem e conheci Pisa e
Florença. Voltei a Portugal em uma manhã tranquila que ainda não se conhecia os
raios de sol, era madrugada quando me dirigi ao aeroporto.
Ganhei as ruas, errei pelos
cantos, os braços cresciam abraçando as cidades, os olhos ficavam úmidos de
tanto observar, o tédio não existia, o deslumbre pouco a pouco era substituído pela
realidade. Pensava embaixo de árvores, comia em praças, conversava com
estrangeiros. Vi a pobreza mesclada com a riqueza, toquei lugares antes vistos
apenas nos livros, na internet. Olhei para o céu, naquele azul brilhante e
pensei: Nada há de novo embaixo de você!
Foi no trem, de Roma à Pisa, que
conheci a Zita. Senhora animada, gentil e simpática, brasileira do Rio de
Janeiro, casada há 25 anos com um Italiano. Estava voltando de férias com a
família. Depois de trocarmos histórias ela me convidou a ir a sua casa e me lembro
direitinho ela dizer, com aquele sorriso largo transportando doçura: “Vá à Pisa
e depois me encontre em Firenze, vou levar você para tomar açaí, você gosta de
açaí, né?”. Fiquei tão feliz por passar aquele último dia na sua presença e por
poder contar essa história que só foi possível por enfrentar o medo da viagem
sozinho, em um país diferente, descobrindo e sendo descoberto.
Durante esse tempo, posso dizer a
vocês que superei alguns medos e alcancei novas colinas. É como se você
estivesse em um lugar que enxergasse um monte e se permitisse caminhar até lá.
Há várias intempéries até o destino final, mas você supera, chega ao topo do
monte, ao cume; fica feliz, respira e observa que há outros, de outras formas e
tamanhos e que aquilo que lhe trouxe até ali só foi possível, porque você se
permitiu.
Continuo com algumas convicções
que fazem parte de mim, mas alarguei alguns pensamentos como se fosse um
elástico, diferente deste, ele não volta ao tamanho anterior, o meu elástico
está maior e sinto que consigo ampliá-lo, se não me corromper pela invisível
inércia e pelo conforto do medo.
De repente estou de volta. Escrevo
assim, pois o tempo é uma percepção pessoal.
Há o tempo que brinca, que rasteja, que voa, para mim esse tempo é muito
versátil. Em uma semana visitei amigos, revi carinhas dos animais de estimação,
e senti o calor de abraços que saciaram saudades adormecidas. Algumas coisas
mudaram por aqui, outras se mantêm até hoje; na vida de amigos, nas ruas que
caminho, na minha cabeça que penso.
No próximo semestre estarei de
volta aos corredores da Gloriosa, estou muito feliz em voltar para reencontrar
os meus queridos da UFTM. Estou muito empolgado para as próximas disciplinas, e
como sempre, um pouco inseguro em relação ao futuro. Ah, vida de nômade não é
fácil, mas o que é fácil nessa vida? E fácil é só uma palavra a que você,
leitor, carrega o sentido adequado a sua realidade.
Vemo-nos em breve, até logo.
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