Olá, pessoal
Escrevo hoje para contar um pouco
a vocês como está o clima de provas no curso. Estamos fazendo as primeiras
provas do semestre e com elas todos aqueles sentimentos estudantis que
experimentamos antes, durante e depois. Tivemos as provas de Cultura
Portuguesa I, Espanhol IV, Linguística Portuguesa III e hoje a prova de temas
de literatura sobre o conto “Adão e Eva no Paraíso” de Eça de Queirós.
O professor nos deu uma folha com
o excerto do conto e nos pediu: Comente o texto seguinte, integrando-o na obra
a que pertence:
E não
esqueçamos que Ele já nos ensinou, através de vozes levantadas em Galileia, e
sob as mangueiras de Veluvana, e nos vales severos de Yen-Chou, que a melhor
maneira de o amar é que uns aos outros nos amemos, e que amemos toda a sua
obra, mesmo o verme, e a rocha dura, e a raiz venenosa, e até esses vastos
seres que não parecem necessitar o nosso amor, esses Sóis, esses Mundos, essas
esparsas Nebulosas, que, inicialmente fechadas, como nós, na mão de Deus, e
feitas da nossa substância, nem decerto nos amam — nem talvez nos conhecem.
Eu comecei a resposta assim:
O
trecho retirado do conto: “Adão e Eva no Paraíso” – publicado em 1897 traz o
remate interrogante do conto, caracterizado pelo dualismo: evolução x
involução? Em um tom lírico, carregado de um pessimismo antropológico. E por ai
foi...
Em meio aos tantos pensamentos
que permeavam em minha cabeça e a dificuldade de transcrevê-los de forma sistemática
e inteligível, coerente e coesa, ouvi e observei o professor questionar um
aluno a respeito de sua resposta curta, pouco mais de meia folha. Adotei uma
posição empática e pensei logo na consequência dessa ação, se fosse comigo. Soou desestimulador esse julgamento precoce, enaltecendo a forma em detrimento
ao conteúdo, ainda desconhecido. Estou inclinado a observar as ações dos meus
professores com fim de refletir também no meu posicionamento como aluno e
futuro professor.
Esse processo de formação é imprescindível
para que eu me forme para além do certificado oferecido pela Universidade. Gostaria
muito de ser um instrumento de estímulo e transmissor de conhecimento aos meus
alunos, a fim de gerar um aprendizado mútuo entre nós na prática do pensamento
crítico e respeitoso.
Divago em ideias que, ainda
limitadas e em processo de construção e lapidação, possam alterar e contribuir
para uma sociedade mais justa e igualitária. Ainda penso na difícil tarefa de
cada papel social, a minha como aluno e dos meus professores. Sei que cada papel
é importante e, por ora, consigo ver mais a minha posição por estar vivenciando-a,
mas tento também me colocar na posição do professor. Acredito que não é uma
tarefa fácil e sempre é um jogo de tentativas, ora de acertos, ora de erros.
A pressão que, nós alunos,
sofremos em uma prova e a preocupação de uma nota pode nos tornar incapazes de
perceber a essência de um estudo, da função catártica que um texto pode
oferecer. Não podemos nos restringir apenas à teoria ditada excluindo a sua
aplicação na prática, principal intuito da literatura. Viver é mais que
existir, se sofremos pressões sociais e de cariz acadêmico é para aprendermos
de maneira “simulada” e orientada de como será uma possibilidade na vida real,
quando formos nós os professores.
Acredito que quando um aluno
escolhe o seu curso não tem uma ideia clara do que vai ser, do que irá estudar,
dos desafios que enfrentará, portanto a sua paixão e entusiasmo pode diminuir
ou aumentar de acordo com as suas vivências. Nesse trajeto podemos encontrar
professores que nos instigam, nos dão uma luz, como dizem por aqui: “Se fez luz
ao meu espírito”, é fundamental que tenhamos professores que gostam do que fazem
mesmo apoiados na teoria sejam também propagadores da “beleza”, do lado
interessante, da função prática e humana que a disciplina pode oferecer.
Para ilustrar esse pensamento
recorro à memória de um dia ouvir a minha professora dizer: “Como eu farei para
que os meus alunos gostem também disso?” Vejo nessa preocupação uma iniciativa
entusiasmada, a força de um semeador, na alegria e motivação de apresentar um dos possíveis caminhos do saber, de ser um agente social modificador.
Tais questões são consequências de
um caminho elegido, ainda não dominamos por completo todas as respostas, e
seria utópico acreditar que um dia dominaremos todas, é inerente ao aprendizado
a capacidade de mudança de opinião, de focalização e da ideia de verdade.
Portanto a dificuldade pode residir na crença de
acreditarmos que somos incapazes, devemos assumir um posicionamento de
possibilidade perante a uma avaliação desta natureza. Gostaria muito de me
lembrar disso ao avaliar meus alunos. Vou tentar reconhecer em suas provas, em
suas poucas linhas escritas, a manifestação de seus conhecimentos adquiridos e
suas tentativas de análise e reflexão, pois para todo dia cabe a sua luta e
para a eternidade a efemeridade da vida humana, restrita a não muito mais de
uns pares de anos terrestres.
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